Não é carro autônomo ainda, mas já é conectado com a internet

O termo é inglês, mas reflete a corrida do momento: “the data is the new oil” (“os dados são o novo petróleo”, em tradução livre). A pandemia do novo coronavírus tem acelerado transformações nos hábitos de consumo a nível global. E não tem sido diferente no setor automobilístico. Para fugir do destino nebuloso na rota, montadoras mundo afora avançam o desenvolvimento de tecnologia atrelada aos veículos para que, com isso, consigam mapear melhor a jornada do consumidor. A quinta geração da tecnologia móvel, o 5G, que ganhou os holofotes pela batalha geopolítica envolvendo americanos, chineses e nórdicos, será crucial para transformar a relação do ser humano com o carro. Nessa linha, a Fiat Chrysler Automobiles (FCA) e a operadora de telefonia TIM resolveram dar um passo à frente. Na tarde desta quarta-feira, 28, as empresas anunciaram o lançamento de um sistema de conectividade que permitirá com que futuros lançamentos da montadora estejam ligados à internet por meio do sinal de tecnologia móvel da TIM. A proposta é inovadora dada às possibilidades no caminho com a pavimentação do 5G no Brasil, o que permitirá avanços no setor, com veículos conectados e autônomos.

Segundo um estudo recente da Boston Consulting Group em parceria com o Fórum Econômico Mundial, a presença de carros autônomos em centros urbanos resultaria numa redução de 60% na circulação de carros nas ruas e, por consequência, uma diminuição de 90% em números de acidente entre os veículos. Em relação aos ganhos ambientais, a estimativa é de que o volume de gases poluentes emitidos na atmosfera diminua cerca de 80%. Abre-se um leque de oportunidades. No caso da parceria entre Fiat Chrysler e TIM, a ideia é promover que as pessoas possam abastecer o veículo e realizar o pagamento sem a intervenção do condutor. Pode-se, ainda, definir automaticamente a velocidade do automóvel conforme o limite estabelecido pelas placas de trânsito. “Consideramos que a conectividade estará disponível nos produtos das marcas do grupo Fiat Chrysler a partir do primeiro trimestre do ano que vem”, disse André Souza, Chief Information Officer (CIO) da Fiat Chrysler para América Latina, em videoconferência para a imprensa.

Os futuros lançamentos das marcas Fiat, Jeep e Ram virão com o eSIM, um chip virtual para acesso a Wi-Fi nativo a bordo, com cobertura provida pela operadora de telecom. A plataforma servirá como um roteador, por onde os passageiros poderão conectar seus dispositivos móveis, como tablets e smartphones. Ainda será possível dar a partida remotamente no veículo e acionar o ar-condicionado ou o aquecedor para garantir a temperatura interna ideal antes mesmo da entrada no carro. O mais valioso para a empresa será a quantidade de dados que a plataforma pode gerar, o que ajudará também na identificação de eventuais falhas no veículo com a possibilidade de diagnósticos mais ágeis. A empresa alerta, no entanto, que irá respeitar a privacidade dos usuários por meio da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que entrou em vigor recentemente. “A proteção digital é algo extremamente importante para o negócio dos serviços conectados e, por isso, existe dentro da FCA regras e procedimentos focados em cibersegurança, como a dupla autenticação. Não somente o aplicativo ou a plataforma se autentica no veículo, mas o veículo também se autentica na plataforma”, esclarece Souza.

A General Motors, dona da Chevrolet, também já fez experimentos de conectividade no Brasil. A parceria da GM no Brasil é com a operadora de telecomunicações Claro. Em agosto, a empresa vendeu mais de 200.000 veículos habilitados para o uso de Wi-Fi a partir da tecnologia da Claro. O comprador dos carros Cruze, Tracker, Picape S10 e Trailblazer encontram carros habilitados com um plano de dados que varia de 2 a 20 gigabytes, que pode ser usado tanto para o uso de aplicativos como para o entretenimento. Para o português Nuno Simões, ex-diretor de IoT para Qualcomm no Brasil e sócio da consultoria Action Executivos, os anúncios recentes são um grande sinal da evolução das companhias de telecomunicações no país. “A tecnologia eSIM, usada pela TIM em parceria com a FCA, já existia há muito tempo, mas as operadoras não se interessavam, porque isso significa ter uma linha de celular a menos para ser vendida”, afirma. “Hoje, o eSIM também já está sendo usado em relógios inteligentes. A tendência é que num futuro próximo tenhamos carros verdadeiramente autônomos e conectados, utilizando o carro como um serviço que vai muito além do que um simples bem de consumo”. Sinal dos novos tempos.

 

 

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