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AFP
Bento XVI, falecido neste sábado (31), aos 95 anos, prometeu após a sua renúncia, em 2013, não ofuscar seu sucessor, o papa Francisco. Mas, na realidade, nunca se deixou esquecer, alimentando a saga de “dois papas”, amigos e ao mesmo tempo rivais. Algumas de suas decisões marcaram uma vontade diferente e provocaram desconcerto em muitos católicos: continuou chamando-se “Papa Romano Pontífice emérito Bento XVI”, o nome que o alemão Joseph Ratzinger escolher ao ser eleito papa em 2005; e continuou usando batina branca e morando no Vaticano. A presença de dois papas, “os dois de branco”, como reforçou a imprensa na época, provocou um problema inédito na história recente da Igreja. O primeiro pontífice a renunciar ao Trono de Pedro em seis séculos tinha prometido viver “escondido do mundo” em um antigo mosteiro, levando uma vida de contemplação e pesquisa acadêmica. Mas acabou intervindo em temas delicados, como o abuso sexual praticado por padres, e pronunciando-se sobre a possibilidade de ordenar homens casados sacerdotes. Em 2020, a contribuição do ancião Bento XVI em um livro de defesa do celibato foi interpretada como uma nova tentativa de pressionar Francisco, orquestrada pelos opositores do papa argentino. Setores ultraconservadores da Igreja transformaram Bento XVI no símbolo da ortodoxia teológica frente a Francisco, a quem chegaram a chamar de herege por sua abertura no campo social. Muitos especialistas afirmam que esta tensão pode ter sido alimentada pela falta de regras precisas sobre o papel de um pontífice que renuncia. – Bento versus Ratzinger – “Houve indícios de possíveis problemas desde o começo”, escreveu Richard Gaillardetz, professor de teologia católica do Boston College no National Catholic Reporter. “A publicação de pontos de vista sobre temas controversos, quando provêm de uma pessoa que insiste em merecer o título de papa (ainda que emérito), veste-se com as indumentárias papais e reside no Vaticano, representa um problema profundo”, acrescentou. Muitos apoiadores de Bento XVI avaliam, inclusive, que ele deveria ter usado seu nome de registro, Joseph Ratzinger, quando assinou sua contribuição para o livro polêmico. O historiador Francesco Margiotta Broglio, chefe da Comissão para a Liberdade Religiosa da Itália, considera que “Ratzinger não deveria nem escrever, nem falar”. – Complô contra Francisco – A idade avançada de Bento XVI, que sempre teve uma saúde delicada e nos últimos anos enfrentou dificuldades para falar e escrever, levou observadores a se perguntarem se ele era o real autor das reflexões publicadas. “É provável que alguns prelados contrários a Francisco tenham tentado ocultar um complô sob o manto do papa emérito”, comentou Massimo Faggioli, professor de teologia da Universidade de Villanova. Bento XVI admitiu, ao renunciar, que não tinha forças, nem mentais, nem físicas, para reinar sobre o destino de mais de 1,2 bilhão de católicos. Seu secretário pessoal, Georg Gaenswein, contou em 2016 que o pontífice emérito estava “desaparecendo lentamente”. “As intervenções de Bento XVI nos últimos anos geraram dúvidas, dada sua enfermidade e idade (…) Algumas pessoas pensam que ele pode ter sido manipulado por quem queria desacreditar Francisco, mesmo que o próprio Bento não quisesse”, disse Gaillardetz. Faggioli considera necessário estabelecer o que se deve fazer com um papa emérito, visto que este problema pode voltar a ocorrer. Não se exclui que, a partir de agora, os pontífices que renunciarem tenham que abrir mão das insígnias papais e de morar no Vaticano. Este mês, Francisco revelou ter assinado uma carta de renúncia há quase uma década caso sua saúde o impeça de continuar desempenhando suas funções. bur-kv/mar/js/meb/mvv
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