A notícia do dia nesta quinta-feira, 29, é o armistício encenado pelo ex-presidente Lula e o ex-ministro Ciro Gomes. Segundo o jornal O Globo, os esquerdistas se reuniram no início de setembro e decidiram parar com os ataques mútuos, visando a eleição de 2022 e a sucessão do presidente Jair Bolsonaro.
Na outra ponta da política, o governismo de direita bolsonarista bate cabeça. O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, brigou com o secretário de Governo, Luiz Eduardo Ramos, depois foi para cima do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, ofendendo-o em um tweet. Em seguida, disse que não fora dele a autoria e até desativou seu perfil.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, foi alvo de Rodrigo Maia hoje cedo, que o acusou de ter vazado a conversa que tiveram. Depois, Maia corrigiu. Cada dia tem guerra de rede social entre partes do governo, ou grupos políticos próximos.
O próprio presidente Bolsonaro retirou o que restava de respeito ao ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, ao dizer que não iria adquirir a vacina desenvolvida por uma farmacêutica chinesa, um dia após o Ministério da Saúde anunciar a intenção de comprar 46 milhões de doses. A ala militar anda desgostosa, dizem aliados.
Os petistas e pedetistas governaram o Brasil em uma aliança na Era Lula e estão de olho nesses flancos abertos no governo. Já perceberam que o “governo da discórdia” dá oportunidade para uma candidatura competitiva para tentar impedir a ainda possível reeleição de Bolsonaro.
O presidente tem se mostrado resiliente nas pesquisas de opinião e na aprovação do seu governo. Mas no segundo ano de mandato, Bolsonaro, que já não tem uma base de apoio das mais sólidas, testemunhou a lista de ex-aliados – hoje desafetos – crescer numa proporção que não se teve registro no primeiro mandato de Lula.
Só em meados do terceiro mandato o petista viu sua base estremecer com a denúncia do mensalão, feita por Roberto Jefferson, hoje aliado de primeira hora do bolsonarismo. Ou seja, o centrão de hoje pode, do dia para a noite, virar o centrão de ontem e trair o bolsonarismo. O ex-deputado petebista, por exemplo, se tornou conservador e “temente a Deus” em dois tempos após a eleição de 2018. Isso pode ser desfeito rapidamente.
Acontece que, somado a esse terreno escorregadio, a lista de ex-aliados críticos ao presidente cresce de forma temerária. Recentemente, o general Rego Barros, ex-porta-voz da presidência, deu o tom, fazendo uma série de críticas veladas a Bolsonaro, inclusive afirmando que o poder “inebria, corrompe e destrói”. Ele entra na fila liderada pelo general Santos Cruz, pelo ex-juiz Sergio Moro e pelo falecido Gustavo Bebbiano.
Enquanto Bolsonaro vai se espremendo em termos políticos, a esquerda, pela primeira vez, parece querer alargar suas fileiras para transpassar sua própria rejeição e tentar derrotá-lo. Ainda é cedo, mas está cada mais claro que o presidente tentará repetir o que fez em 2018, vencer tudo e todos sozinho, sem grandes alianças. O próprio partido que o elegeu (PSL) e vários de seus parlamentes, estão às turras com Bolsonaro.
A questão é que, com a esquerda um pouco mais unida (mesmo que não totalmente), e a direita pulverizada, com candidatos como Sergio Moro e João Doria fazendo sombra a Bolsonaro, 2022 pode desenhar um quadro bem diferente de quatro anos antes. A aposta arriscada de Bolsonaro – do eu, eu mesmo e meus filhos “contra o establishment” – será mais difícil de ser premiada no tabuleiro que está se desenhando. Acendeu a luz amarela.