Extrativismo: seria uma das causas? E você? O que acha?

O capitalismo é a exploração do homem pelo homem. O socialismo é o contrário. (Millôr Fernandes)

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O mundo experimenta avanços incontestáveis. Estamos diante de conquistas nas ciências, na inovação e na tecnologia. Não resta a menor dúvida. Tudo às escâncaras. Mas, existe sempre aquela contra argumentação dos mais velhos, em legítima defesa, “onde estava você quando não tinha ninguém para fazer?”, resposta a adjetivos que imputam a gerações como: ultrapassado, démodé ou no bom português, defasados. Tenha em mente que tudo que você aprende na escola é trabalho de muitas gerações (…). Receba essa herança, honre-a, acrescente a ela e, um dia, fielmente, deposite-a nas mãos de seus filhos”, teria dito Albert Einstein. É o que acontece quando a geração “nem nem” (nem estuda nem trabalha) critica o pretérito, projeta o futuro, mas vive um presente, dádiva que lhe caiu às mãos generosamente do céu. Os alicerces? Estão lá atrás, construídos por gerações e gerações, que irromperam contra o status quo, rasgaram preconceitos e furaram bloqueios, construíram suas vidas a partir do lúdico, oportunidade para a criatividade, com seus piques salve e jogos de queimadas, futebol com bolas de meias velhas, quadrilha juninas e cobra cega, jogos de damas e tantos outros exercícios mentais feitos à partir da satisfação e descobertas.

Nesse ambiente moderno, complexo e perplexo, com acontecimentos negativos e uma acomodação geral da juventude, ouvi numa conversa de botequim, uma brasileira, como todos nós, em estado de choque, diante dos descalabros sociais e inércia política, na luta pelos direitos difusos. Ora, em tempo de “vaca não conhecer bezerro”, é de conhecimento amplo a procura de causas para tanta desgraça, oportunismo e covardia. Temos sempre os fatos históricos para argumentar possíveis causas. E nesse botequim de que falei, em diálogo despretensioso, a amiga Regina Lúcia, como tantas Reginas e Lúcias, disse sobre a origem, em seu entendimento, de tantos problemas: “uma das causas foi o extrativismo de décadas praticado no país”. Claro que concordo. E a argumentação concisa e profunda e exige reflexão sincera e comprometida com a veracidade histórica.

Ao visitar a Europa, “tocando a história com as mãos”, identifica-se imediatamente sua opção econômica para gerar divisas, empregos, desenvolvimento, bem-estar social, prosperidade: o turismo. E não tem outro jeito. Possui cerca de 10. 180. 000 km² ou 2% da superfície da Terra, continente mais populoso do mundo, 50 países, com 731 milhões de habitantes, cerca de 11% da população mundial. As razões históricas mostram que o continente tem aproximadamente 80% de utilização de seus solos intensamente utilizados para povoação, produção agrícola, infraestruturas, demandas que promovem degradação constante nos ecossistemas e meio ambiente, provocando acalorados pronunciamentos entre os países. Ali estão as maiores economias do planeta. É preciso que, desde sempre, que joguem esse lixo longe, lembrem-se da “Convenção do clima em Paris”, na conta dos países pobres e emergentes.

E o que isso interessa aos brasileiros. Ao pensar o Brasil, desde 1.500, data oficial do descobrimento, identifica-se imediatamente sua inexorável opção econômica para gerar divisas, etc., etc., etc., diretamente e irresponsavelmente ligada ao extrativismo mineral e vegetal como fonte de recursos. Entretanto, o exemplo europeu com seus solos exauridos devia inspirar as autoridades brasileiras, por óbvio, a trilharem outros caminhos. Observe, por exemplo, no extrativismo mineral, possuindo muitos recursos naturais, o país vende seu minério para, comprar o produto que é fabricado por ele (o minério) em outro país, desperdiçando o famoso “princípio da oportunidade” que sugere, de novo, por óbvio, trabalhar seus recursos minerais e, a posteriori, vendê-los agregando mais valor. Estamos falando de Ferro, manganês, alumínio, cobre, ouro, nióbio, quartzo, Sal marinho, chumbo, cimento, Caulim, Diamante, Enxofre, Magnesita, níquel e Tungstênio. Tudo, tudo, lastimável. Só faz rir os países que importam as matérias primas e exportam seus produtos para o Brasil e outras nações, nas mesmas condições. Não há nenhum constrangimentos em esfolar o país nesses acordos e transações econômicas bilaterais ou em blocos, ricos comercializando com pobres. Um cabo de guerra que, sempre, arrebenta do lado mais fraco.

O extrativismo vegetal, também importantíssimo, requer política de governo protetiva à biodiversidade brasileira, pois no caso do país, temos uma das maiores do mundo. Evidentemente, não existe ética, e nunca existirá, em relações internacionais, o que coloca em risco essa rica matéria prima. Nossas plantas, animais e microrganismos são fontes de alimentos, remédios e indústrias de remédios. E continuamos perpetrando incompetência com a chamada “nova matriz econômica” do país, que segue esse mesmo raciocínio. O diálogo com Regina Lúcia, proveitoso, rico, com conteúdo cheio de amor ao país me chamou a outra reflexão: considerando que extrativismo significa atividades de coleta de produtos naturais, tirar da natureza o que ela oferece, de origem animalvegetal ou mineral. E, continuando, de origem animal e sendo o homem um animal, num exercício hipotético, estaria ocorrendo um extrativismo colonial cognitivo? Onde as inteligências humanas brasileiras estariam sendo cooptadas online e retornando com valores agregados de ciência, inovação e tecnologia, para serem adquiridos pela própria nação a um custo macabro, de dominação ampla, geral e irrestrita, provocando uma autofagia nacional, num processo autodestrutivo, social, cultural e econômico?

Gilberto Clementino 
Análise política
Crédito imagem: you tube – www.thecities.com.br

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