Tentando estabelecer uma relação causal entre altas temperaturas e crimes violentos e hospitalizações por saúde mental, pesquisadores americanos chegaram a um resultado ambíguo. Embora sintam mais desconforto com o calor, os idosos não têm seu humor tão afetado quanto os adultos mais jovens.
À medida que nosso planeta experimenta condições extremas devido às mudanças climáticas, a relação calor-afeto tem sido um dos temas mais investigados para tentar compreender o aumento de comportamentos mal-adaptativos durante o verão.
De maneira geral, os pesquisadores perceberam que os dados climáticos objetivos podem funcionar como preditores de comportamento, à medida que as pessoas se sentem desconfortáveis. Paradoxalmente, os adultos mais velhos revelaram maior desconforto térmico, mas um afeto negativo menor.
Publicado na revista BMC Psychology, o estudo confirmou a importância do desconforto térmico na previsão de emoções negativas. No entanto, essa sensação de desconforto varia profundamente de pessoa para pessoa, ainda que submetidas às mesmas temperaturas ambientes.
Como foi feita a pesquisa sobre a relação calor-afeto?
Com foco na hipótese de que estados emocionais negativos estão ligados a pessoas agindo agressivamente, a equipe liderada por Kimberly Meidenbauer, pesquisadora da Universidade Estadual de Washington, recrutou cerca de 400 participantes da área de Chicago.
Enquanto estavam ao ar livre durante o verão de 2022, essas pessoas usaram um aplicativo para relatar seus níveis de conforto térmico e estados emocionais. Para confirmar os dados no momento em que os participantes faziam seus relatos, os pesquisadores usaram geolocalização.
Os autores analisaram esses dados para explorar eventuais “associações entre variáveis climáticas objetivas (temperatura, umidade, etc.), calor percebido (percepção térmica e conforto) e estados afetivos”, diz o estudo.
Ao final, os dados climáticos foram suficientes para prever a percepção e o conforto, mas somente este previu os estados afetivos negativos. Comparando pessoas diferentes, o clima não deu conta de explicar emoções negativas ou níveis de conforto.
Mas, quando analisaram cada pessoa individualmente ao longo do tempo, suas emoções e conforto puderam ser bem explicadas. Isso significa que existe, sim, uma relação consistente entre temperatura e experiência psicológica, mas ela é única e individual, o que levou os pesquisadores a explorarem idade e gênero.
Conclusões da pesquisa sobre desconforto térmico e emoções negativas
O fator gênero logo foi descartado como moderador da relação entre temperatura e afeto. Já a idade dos participantes mostrou algumas interações importantes. Pessoas mais velhas revelaram uma tendência a perceber temperaturas elevadas como mais quentes.
No entanto, mesmo sentindo esse desconforto térmico, a população idosa não mostrou alterações emocionais para um comportamento mais agressivo, como ocorreu com os participantes mais jovens.
A pesquisa sugere, assim, que adultos mais velhos têm uma resiliência emocional maior no que se refere a desconforto térmico. Nesse caso, é possível que outros fatores extra-temperatura tenham um impacto maior em seu estado emocional.
A verdade é que o estudo não encontrou qualquer tipo de conexão entre temperatura externa e estados emocionais das pessoas. O importante foi saber quão desconfortáveis (ou não) elas se sentiam.
Ainda assim, foi necessário, dependendo da idade de cada participante, averiguar se a temperatura julgada desconfortável poderia acionar algum tipo de humor negativo associado.
Com esse grau de variabilidade na percepção do desconforto térmico, Meidenbauer reconheceu em um comunicado que, para vincular temperatura objetiva a comportamentos psicológicos, melhor seria medi-los de forma direta.
Ela não descarta repetir a pesquisa sobre respostas emocionais ao calor, porém em um ambiente laboratorial desta vez.
Mais de 800 mi de pessoas moram perto de vulcões ativos; conheça cinco
Fonte: CNN Brasil