“Os Dez Mandamentos”: da tela para a história

Não é preciso ser religioso. Basta apenas ter bom gosto para constatar o belíssimo resultado alcançado pela novela “Os Dez Mandamentos”. E digo mais: até mesmo agnósticos, ateus, hippies, piratas, monarquistas, anarquistas, republicanos estão a aplaudir, pois estamos assistindo aos momentos finais de um trabalho (de arte) feito com esmero, talento e dedicação. Uma demonstração de criatividade e superação da televisão brasileira. Certamente uma novela que vai conquistar países pela competência dos profissionais envolvidos, que atingiram resultados além dos esperados. Uma superprodução da teledramaturgia brasileira que está terminando e será substituída dentro de instantes, pois outras virão, mas como prêmio, certamente entrará para a história, que teve início com a inauguração em 18 de setembro de 1950, da TV Tupi, trazida por Assis Chateaubriand.

Mesmo os críticos mais exigentes não podem negar que a novela da Rede Record de Televisão marcou e está marcando ponto entre as melhores produções realizadas para o público adepto de novelas. E certamente muitos, dentre os quais me incluo, não assistem novelas, mas diante de “chamadas” tão impactantes para a exibição dos “próximos capítulos” andaram de soslaio (fingindo não olhar, mas olhando) para conferir a chegada das pragas e abertura do Mar Vermelho.

Alguns críticos vão procurar e apontar falhas. Não importa. O que importa é o conjunto da obra. O que importa é constatar que se abriu oportunidade e existe mercado de trabalhos para muitos profissionais e que, ainda, existe muito talento no país. Todo mundo aprende é fazendo, praticando. Foi dessa forma com a Rede Tupi, com a Band, com a Globo, com a Record, começaram, engatinhando e hoje se constituem em meios de comunicação de alto padrão.

O profissional mais cético em relação ao êxito de história bíblica adaptada para exibição em horário nobre de televisão se curvam ante aos resultados e índices de audiência, que nesta terça-feira (10) superaram a poderosa Rede Globo de Televisão. E incrível, o instituto de pesquisa Kantar Ibope Media aponta 10 pontos de diferença. Uma grande conquista da emissora na concorrência direta. E prestemos ainda mais atenção: do outro lado, vamos dizer assim, nada mais nada menos que o poderoso Jornal Nacional.

Na verdade, a novela veio preencher um espaço que estava adormecido. Claro, vieram as intrigas dos textos bíblicos, as dúvidas, as eternas discussões sobre o “jogo do poder”, mas de modo diferente, com ênfase na esperança, no amor, na fé, na crença de que o homem nasce bom e que é sua responsabilidade tornar-se “seu céu” ou o “seu inferno”. Depende, fundamentalmente, dele. A novela aborda os delicados temas familiares, tanto de hebreus quanto de egípcios, empolga a opinião pública e atrai os anunciantes.

Tudo em contramão do que tem sido produzido por outras emissoras. Basta dar pequena olhada no que temos no ar: desde “Antonio Maria” (Tupi), Irmãos Coragem (Globo), Escrava Isaura (Manchete), dentre outras, chegamos a novelas, atualmente, com textos “pesados”, que embora busquem uma abordagem de cotidiano familiar em aglomerados conflitantes, implicações de classes sociais, nos últimos tempos levam ao ar, apenas conteúdos em que os autores “carregam na tinta” para mostrar muita violência, muito sexo, desagregação familiar, tristeza, desencontros e toda sorte de desventuras.

Tudo em busca de uma audiência, que mesmo numa leitura por recorte, pelo enorme investimento em dinheiro, chega, ainda, com pontos muito questionáveis e por vezes pífios.
É a velha forma de fazer pesquisas. São sempre as mesmas dúvidas quanto à legitimidade de captação diante de indagações espontâneas ou estimuladas. Com isso, ganhou terreno no campo da audiência uma trama baseada em livro bíblico que narra passagens do povo hebreu, seu sofrimento e escravidão no Egito, lembrando o profeta Moisés e as 10 pragas lançadas sobre as terras dos faraós para produzir, finalmente, a libertação dos judeus e, finalmente, a travessia do mar Vermelho rumo à Terra Prometida. E de quebra, se abriu, também, um mar de oportunidades e alternativas para a teledramaturgia brasileira.

Gilberto Clementino
Análise
Foto: Divulgação Rede Record

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