Produtor de Renato Russo alvo de ação policial nega existência de inéditas

Entre 2000 e 2010, o produtor e pesquisador musical Marcelo Froes foi contratado pela família de Renato Russo, pelos integrantes do Legião Urbana e também pela gravadora EMI para fazer uma pesquisa musical da obra da banda e de composições da carreira solo de Renato Russo. Dessa pesquisa, ele produziu um relatório em que detalhava todo o material analisado e lançou os álbuns póstumos Renato Russo Presente (2003) O Trovador Solitário (2008) e Duetos (2010), e os DVDs Uma Celebração (2005) e Entrevista MTV (2006).

Nesta segunda-feira, 26, os policiais civis da Delegacia de Repressão a Crimes contra a Propriedade Imaterial, após uma denúncia feita pelo filho de Renato Russo, Giuliano Manfredini, fizeram buscas na casa de Froes, numa operação batizada de Será (em referência a música da banda). A batida policial buscava músicas inéditas que poderiam estar escondidas por ele. Foram apreendidos, além de HDs, computadores e celulares, também o tal relatório feito por Froes no passado. Horas depois, em entrevista para a TV, o delegado responsável pelo caso disse que eles haviam encontrado, pelo menos, 30 músicas em versões inéditas do artista que precisavam ser confrontadas com filho de Russo para saber se ele tinha conhecimento delas. 

Em entrevista a VEJA, Marcelo Froes disse que não existem músicas inéditas de Renato Russo. “O Renato tem, sim, letras que não foram gravadas, mas elas já foram reveladas em exposições no CCBB do Rio de Janeiro, em 2004, e no MIS, em São Paulo, em 2017. Não existem 30 músicas inéditas. Se existissem, eu teria lançado há dez anos, quando estava trabalhando na pesquisa”, disse. 

O que aconteceu? Foi uma violência sem o menor sentido. Acordei ontem (segunda-feira, 26), às 6h, com a polícia na minha porta. Levaram meus HDs, meus computadores e meu celular. Estou sem poder trabalhar porque todo o meu backup está com a polícia. Tenho material de outros bandas que não posso perder. Trabalhei durante dez anos com a família do Renato, para os dois integrantes da banda, o Marcelo Bonfá e o Dado Villa Lobos, para o ex-empresário Rafael Borges e também para a EMI, tudo com contrato, para fazer um levantamento de todo o material do Legião Urbana e do Renato Russo. Eles me passaram os materiais e depois eu devolvi tudo, com um relatório. Desse material, eu fiz os álbuns Renato Russo Presente (2003) O Trovador Solitário (2008) e Duetos (2010), e os DVDs Uma Celebração (2005) e Entrevista MTV (2006). Desde 2010 eu nunca mais mexi com isso. Me afastei do assunto quando o Giuliano Manfredini, filho do Renato, atingiu a maioridade e passou a gerir a obra do pai. Ele desapareceu. Desde então, todas as notícias que tenho de lá são ruins. A última delas bateu na minha porta. Foi uma coisa esdrúxula. 

O que a polícia foi procurar na sua casa? Esse relatório, que virou uma lenda. Na época que escrevi o relatório, foi noticiado que existiam gravações inéditas e os fãs começaram a cobrar nas redes sociais que esse material fosse lançado. Acho que o Giuliano fuçou isso e vieram bater aqui em casa. As gravações do Legião Urbana estão nos arquivos da EMI. Não aqui. Eu nunca trabalhei diretamente com o Renato Russo. O que eu mexi do acervo dele foi com autorização das partes envolvidas. Eu não me apresento como produtor musical do Renato Russo e, sim, como produtor executivo daqueles discos. 

De onde surgiu esse número de 30 músicas inéditas de Renato Russo? Não existem 30 músicas inéditas. Se existissem, eu teria lançado há dez anos, quando estava trabalhando na pesquisa. O que existe são “trocentas” horas de gravações com sobras de estúdio, de ensaios e shows ao vivo que não foram lançadas. O Renato sempre falou sobre isso, o Dado e o Bonfá também. Isso não é segredo. Mas não são músicas inéditas. Não vejo motivo para uma ação policial como essa na minha casa. O Renato tem, sim, letras que não foram gravadas, mas elas já foram reveladas em exposições no CCBB do Rio de Janeiro, em 2004, e no MIS, em São Paulo, em 2017.

O que existe, então? Eu só vejo uma animosidade absurda que só foi crescendo desde que o Renato Russo morreu. E essa animosidade acontece entre todas as partes. Quando o Giuliano assumiu, ele já estava pronto para uma guerra. Cada vez que coisas como essas acontecem, cria-se uma má vontade entre os produtores e ninguém aceita mexer mais nisso. Falar do espólio do Renato Russo virou um assunto chato, triste, baixo astral. Eu sei que eu estou falando. É pedir para se aborrecer. Já tem dez anos que não faço mais nada sobre o Renato Russo e desde então só ganhei inimigos.

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