O ex-porta-voz de Bolsonaro, general Otávio do Rêgo Barros, publicou (aqui) um duro artigo contra o governo Bolsonaro.
De maneira indireta, acusa Bolsonaro de ter feito falsas promessas, de uma atitude messiânica, de estar embriagado pelo poder, de ser “piromaníaco”. E critica os “seguidores subservientes”, que assumem uma “confortável mudez” e não praticam, “por interesses pessoais”, “a discordância leal” que auxiliaria Bolsonaro a errar menos e governar melhor.
Por “seguidores subservientes”, Barros não está se referindo à ala ideológica (que nada tem de subserviente), nem a auxiliares sem motivo para ter conflito com o presidente. Está se referindo, é óbvio, à ala militar, mais especificamente aos ministros militares.
Pazuello foi humilhado publicamente por Bolsonaro, respondeu que “manda quem pode, obedece quem tem juízo”, e ainda declarou ter “carinho” pelo presidente. Ramos, que foi insultado publicamente por outro ministro, reagiu com muxoxos, foi passear de moto com Bolsonaro, e, sem piscar, aceitou desculpas protocolares que chegaram com três dias de atraso. Heleno, Braga Netto e Fernando Azevedo, ministro da Defesa, assistiram aos dois episódios em ignominioso silêncio.
Abstraindo o telhado de vidro do general — funcionário de Bolsonaro por quase dois anos, desautorizado e humilhado várias vezes — e seu eventual ressentimento por ter sido descartado sem qualquer consideração, as acusações de Rêgo Barros não são apenas violentas, mas verdadeiras e também emblemáticas.
Elas indicam que o general Barros — que continuou na ativa durante os primeiros seis meses de serviço no governo — deixou de ser porta-voz oficial da presidência para se tornar porta-voz oficioso do Alto Comando do Exército, que, pelo que se diz, está furioso com a desmoralização sistemática das Forças Armadas promovida por Bolsonaro.
O que o Alto Comando pode fazer para, a esta altura, salvar a honra e a imagem das Forças Armadas, não está claro. O habitual caminho latino-americano, felizmente, parece fora de cogitação: ainda que o general afirme que “a estabilidade política do império está sob risco” (frase que provoca calafrios), o artigo prestigia a imprensa, declara que a população é o “árbitro supremo da atividade política”, e menciona a “próxima eleição”.
Melhor.
Mas, já que estamos nisso, uma ideia é determinar que militares da ativa só podem ter funções ligadas à defesa. Corrigir-se ia uma anomalia, centenas de oficiais voltariam para a caserna (de onde não deveriam ter saído), e o recado de que o governo é o governo e as Forças Armadas são as Forças Armadas estaria dado.