“Não há problemas em reclamar do trabalho. Mas trabalhe antes. Só assim suas queixas terão fundamento”. (Sócrates)
Para o filósofo grego, muita gente reclama sem ter razão. É importante que, apesar da insatisfação, o trabalho seja feito.
Diante da aproximação das eleições 2016 os eleitores, atentos, procuram melhorar o nível de seu voto, qualificando-o e “peneirando” candidatos. E eles (candidatos) estão chegando… muitos querendo reeleição. São comportamentos bizarros de pré-candidato, dentro em breve candidato, após confirmação de seus nomes pelos partidos políticos e registro nos tribunais eleitorais. Tudo, tudo, em 5.570 municípios pelo país, numa corrida desenfreada e cheia de condutas cômicas, para não dizer tragicômicas (misto de tragédia e comédia). Lembramos, logo, do aplaudido professor e filósofo Mário Sérgio Cortella, que brindou a todos com um trabalho literário importante. Dessa feita, em parceria com o também filósofo Renato Janine Ribeiro publica “Política: para não ser idiota”. E não sem razão explica de modo inequívoco o sentido da palavra idiota, pelo ângulo etimológico. De origem grega, tem o sentido primitivo de idiotes era o de “homem privado”, isto é, metido com seus próprios afazeres, olhando sempre para seu próprio umbigo, afastado da gestão da coisa pública. Na sociedade grega da época, isso era o mesmo que dizer “pessoa sem instrução”, pois só tomava parte na vida pública quem tivesse algumas luzes. Ou seja, cada um que cuide de si e Deus de todos.
Em momento de dificuldade com arrecadação e comprometimento fiscal em municípios, estados e país, assiste-se ao empobrecimento da classe política, notadamente nas bases sociais, onde estão os vereadores, diante das mais urgentes e necessárias providências esperando por ações práticas e aprofundamento em conteúdos de interesse público. Entretanto, de “fazer corar” estão os políticos dos legislativos municipais espalhados pelo país, com “propostas” tolas e movimentações desnecessárias, apenas preenchendo o tempo e gerando gastos, para em seguida, se apresentarem aos eleitores para seguidas reeleições, o que não exime o eleitor (incauto) de responsabilidade. São os profissionais da política, muitos em mandatos sobre mandatos, sem nenhuma resposta efetiva às demandas sociais, mas apegados a salários e verbas de gabinete, por exemplo.
Vila Velha – ES: um exemplo clássico de comportamento aquém do executivo e legislativo
Não tem jeito. Com quase todos os partidos inorgânicos e sem preparação de quadros, sem oxigenação, sem renovação, os dias passam e, inexoravelmente, chegam as eleições. Vila Velha, no Espírito Santo, é mais um caso clássico de administração ruim, com uma avaliação sofrível e legislativo municipal com vereadores apresentando fiscalização e produção legislativa (positiva) pífia. Se de um lado, o prefeito Rodney Miranda (DEM), que pretende a reeleição, é aprovado por, apenas, 13% da população canela-verde, resultado catastrófico para um chefe de executivo municipal que tem apoio do governador Paulo Hartung (PMDB), seu amigo desde sempre, do outro, o legislativo municipal se constitui numa frustração para um município de quase 500 mil habitantes, com uma arrecadação projetada de R$ 943,7 milhões em 2016, segundo a Lei Orçamentária Anual (LOA). Onde estão os projetos de suas excelências? Apenas indicações e requerimentos não prioritários, nada de necessários e urgentes. Vereadores acumulam anos na Casa e seus resultados não conseguem demonstrar que houve aprimoramento na fiscalização do executivo e melhoria nas propostas (projetos) encaminhados, votados e aprovados, com base no interesse público. A imensa importância histórica do município fundado em 23 de maio de 1535 (mais antigo do Estado), completando seus 481 anos, parece insuficiente para motivar uma atuação profissionalizada e à altura de sua grandeza. Tanto o público externo (população) quanto o interno se vêem prejudicados pela fraca atuação dos vereadores (alguns com boa formação acadêmica). É o caso do Sindicato dos Servidores Municipais de Vila Velha, que compõe a Frente Sindical dos Servidores de Vila Velha, reclamando de dificuldades com reajustes de salários e sem benefícios, com muitos recebendo menos de um salário mínimo por mês. Em resumo: a população canela verde tem muito pouco a comemorar, diante de sua imensa possibilidade de sucesso, com visível riqueza ambiental, turística e capacidade econômica.
(…) título de Cidadão de Vila Velha, foi utilizado por um vereador para homenagear o juiz Sérgio Moro, buscando holofotes da bem sucedida presença do magistrado na Operação Lava Jato (o juiz, não apareceu).
E ocorre algo interessante. Como sempre, começamos a notar comportamentos reconhecidamente politiqueiros. Nas redes sociais se esboçam reclamações contra o Poder Executivo, agora não tão tímidas (afinal as eleições “batem à porta”), de vereadores que, desde o início do mandato, bajularam, paparicaram e adularam. O que mandou para a Câmara Municipal foi aprovado e nunca houve uma discordância dura, com cobranças fundamentadas. Existem exceções? Claro, um ou dois, mas volto a dizer tímidas, muito tímidas e, apenas, ao deflagrar do processo eleitoral ficarão um pouco mais “consistentes”, para chegar aos eleitores em condições de competitividade nas urnas. A imprensa noticia fartamente, por exemplo, a falta de convites do prefeito para vereadores participarem de eventos públicos (onde realmente está o povo), ao que respondem perambulando em obras públicas, como “moscas de padaria”, para deixar impressões de que essa ou aquela entrega tenha “seu dedo, sua digital”. Outros, com suas “moções de aplauso” ou “títulos de cidadania”, continuam com o mais do mesmo. E sabemos que, não há nada pior que fazer muito bem o que não é necessário fazer. Ainda sobre título de cidadania, inclusive, a concessão do título de Cidadão de Vila Velha foi utilizada por um vereador para homenagear o juiz Sérgio Moro, buscando holofotes (ele) da bem sucedida presença do magistrado, dentre outras, na Operação Lava Jato (o juiz, não apareceu). Como diz o outro: “num deu…”
Gilberto Clementino
Análise política