Política é como nuvem. Você olha e ela esta de um jeito. Olha de novo e ela já mudou. (Magalhães Pinto)
O provérbio português cai bem na situação em que se encontra a capital do Espírito Santo, Vitória, em termos de política de baixo nível. E, por oportuno, lembro que ouvi de um político cerca ocasião que, na dúvida sobre determinada ação, primeiro, se deve observar onde se encontra o “interesse público”. Confesso que naquele momento meu coração se encheu de esperança, como sempre acontece, quando no meio político ouvimos boas intenções e declarações de cunho democrático e focado no bem estar das pessoas. Ledo engano era mais um ator e sua representação teatral de uma tragicomédia anunciada, o que se verificou “a posteriori” quando a oportunidade chegou e o que se assistiu foi tão somente uma obra dramática contendo ao mesmo tempo elementos da tragédia e da comédia.
A situação do prefeito Luciano Rezende (PPS), da capital Vitória, que pretende reeleição é desconfortável, apesar de esforço hercúleo, sua marca registrada. Chegou onde está pela sua obstinação, insistência, mas é público e notório que tem ficado cada dia mais isolado, principalmente em embates no legislativo municipal. Sua história política começa como vereador em Vitória de 1995 a 2008. Em 2008, disputou com o prefeito João Coser a prefeitura de Vitória. Conseguiu 32% dos votos, mas acabou derrotado em primeiro turno. Eleito deputado estadual, em 2010, com números apertados, teve como padrinho o governador Paulo Hartung (PMDB), fundamental apoio, conquistando pouco mais de 20 mil votos.
Em seguida, numa atitude arriscada e legítima (“agora é a minha vez”), irrompeu-se contra orientação desse mesmo aliado, padrinho, mentor político e quase um criador, com quem Luciano conversava por telefone celular “minuto a minuto”, em relacionamento análogo ao “cordão umbilical”, que bem se presta a essa imagem tendo em vista sua formação profissão ser medicina. Com a bandeira do “Muda Vitória” foi eleito de modo ousado para prefeito da capital do Espírito Santo, com 52,73%. Ocorre que, nesse interregno, pela falta de coincidência no calendário eleitoral, veio à eleição para o governo do Estado. Estava de cara com Paulo Hartung, o antigo aliado. Por seu turno, Renato Casagrande (PSB), também antigo aliado de Hartung (apoiado por ele nas eleições de 2010) era candidato à reeleição. Numa opção política arriscada, para quem conhece o jogo eleitoral capixaba, Luciano Rezende acompanhou o projeto de reeleição do governador Renato Casagrande, sendo que por circunstâncias óbvias a neutralidade era impossível. Com a vitória de Paulo Hartung, ficaram “feridas” do processo eleitoral, que dentro de um sistema político “esgotado”, demora a cicatrizar, quando não se agrava (provocando quadro irreversível de afastamento).
Do dito popular; “quem pode mais chora menos”. É uma triste realidade na política brasileira, numa República empobrecida de nobres valores, onde a educação sofre desprezo perturbador. E o Espírito Santo não foge à regra. Apesar de ser uma vitrine política no Estado, Vitória é a segunda, não a primeira, que é reservada a quem tem assento na principal cadeira do Palácio Anchieta, portanto, ao governador Paulo Hartung, que governa o Estado, que é, naturalmente, a principal vitrine da terra capixaba. Outro ponto difícil é o ordenamento jurídico e a competência administrativa que separa ou confunde o que é do município e o que é do Estado, embora “a priori” tudo pareça de fácil entendimento à luz dos denominados preceitos legais. Até onde vai a independência de uma gestão administrativa em relação à outra. Certo é que sempre haverá (e vale para qualquer gestor dos 78 municípios do Estado) a reclamação “de que para tudo se tem que pedir licença ao Estado”. É a regra do jogo. O que fazer quando existe uma briga velada entre o mar e o rochedo? Aparentemente, nada. E nessa briga, quem sofre é o marisco. Portanto, embora os problemas da mobilidade urbana, da poluição do ar, dentre outros tantos, da cidade de Vitória se agravem, não haverá solução a curto nem médio prazo. A população? Em tempos de dificuldade econômica no país, “farinha pouca no meu pirão primeiro”, o que, por hipótese, deve estar pensando o mar. E o outro lado, o rochedo? Por hipótese, também… Todavia, quem sofre é o marisco. E nada disso, sinceramente, diz respeito ao interesse público…
Gilberto Clementino
Análise política
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