Após participar de um grupo de WhatsApp onde se discute a eleição da FAMS (Federação das Associações de Moradores da Serra), percebi que mesmo em ano de eleição Majoritário e Proporcional (Prefeitos e Vereadores), nossos líderes comunitários não discutiam projetos de cidade e sim nomes de pessoas, reproduzindo os consensos hegemônicos partidários ao nível de Brasil. Exatamente como os idiotas úteis de Antônio Gramsci.

A formação e a consolidação de um aparato hegemônico de controle do Estado nos remetem à necessidade de unificação entre teoria e prática, visando à formulação de uma nova concepção do mundo. Antônio Gramsci, intelectual italiano, que viveu na Rússia logo após a morte de Lenin, presenciou a implantação do aparato hegemônico pelo seu sucessor Stalin, com o fuzilamento de milhões de compatriotas em busca de um consenso. Ironicamente baseado na morte dos opositores, o que seria inviável na Itália comandada por Mussolini e suas poderosas forças armadas. O proletariado italiano também se diferenciava pelo nível de organização nos sindicatos, o que não acontecia na Rússia. Se o marxismo fosse implantar uma superestrutura comunista na Itália deveria ser pela hegemonia cultural. A Itália fica no berço onde o pensamento ocidental foi edificado em três colunas ou pilares arraigada no imaginário por um longo processo social histórico. Os pilares do direito romano, da filosofia grega e da ética cristão-hebraica. Enfim o pensamento burguês era muito sólido. Essa nova ordem teria que destruir a família burguesa de fé cristã e a economia capitalista pela educação, manipulação das massas através dos meios de comunicação.

Antônio Gramsci afirmava que os intelectuais deveriam participar da vida prática da massa, pois é muito comum um determinado grupo social, que está numa situação de subordinação em relação a outro grupo, adotar a concepção do mundo deste, mesmo que ela esteja em contradição com a sua atividade prática. Esses intelectuais engajados seriam orgânicos no sentido de se formar e ser formador dessa nova concepção de mundo. Esses intelectuais representam o elemento de ligação teórico-prática, o nexo que liga a estrutura à superestrutura. Seriam verdadeiros cavalos de Tróia infiltrados nas igrejas, empresas, meios de comunicação, sindicatos, associações de moradores e suas federações para contaminar a superestrutura burguesa.  Manipulando a consciência da massa de idiotas úteis em todas as estruturas institucionais para se chegar ao consenso hegemônico.

Neste contexto orgânico o partido político seria fundamental para formar o grupo hegemônico, pois se a hegemonia é ético-política, ela é também econômica. Portanto, o partido deveria acumular capital para conquistar o poder e ter o domínio da superestrutura. Essa engenharia política demanda uma enorme reserva de capital para implantar o Sistema Hegemônico, comprando: Partidos Políticos e coligações visando à maioria no legislativo (Isso explica o escândalo do Mensalão, denunciado pelo ex-deputado federal e ex-presidente do PTB Roberto Jeferson), Ministros e Juízes do Judiciário, líderes sindicais, líderes empresariais, líderes religiosos, líderes comunitários, meios de comunicação, e em última instância armas e mercenários para criar um exército paramilitar (isso explica o passado guerrilheiro de nossa Presidenta).

A tomada do Poder pelo Consenso Hegemônico nos Movimentos Sociais Organizados

Os sindicatos no Brasil até 1964 foram tutelados pelo Estado através do Ministério do Trabalho, ainda não havia as centrais sindicais, apenas a CGT (Comando Geral dos Trabalhadores). A partir do golpe de 1964 houve a intervenção nos sindicatos. A fundação Rockefeller, a serviço do presidente Nixon criou uma teoria para impedir e combater o comunismo na América Latina. Segundo essa teoria, nos países onde a classe média era forte o comunismo não avançava. A Companhia de Inteligência Americana (CIA) instruiu os militares a aplicar essa teoria no Brasil, criando uma classe de grandes empresários privilegiados, que se enriqueceram à custa do aparato estatal.

Na América Latina, os padres seguidores de Antônio Gramsci criaram a Teologia da Libertação, um movimento na Igreja Católica, supostamente progressista, que visava combater a miséria e promover a inclusão social. Outra vertente da esquerda surgiu com a reorganização dos sindicatos na década de 1970, ganhando força de forma independente. Na região industrial conhecida como ABC, em alusão às três cidades industriais paulistas, surgiu o líder sindical o Sr. Luiz Inácio da Silva, o Lula.

Além dos anistiados de 1979, a formação do Partido dos trabalhadores (PT), em 1980 contou com sindicalistas, intelectuais, artistas, teóricos da Teologia da Libertação e a esquerda comunista excluída da polarização entre Arena e MDB.  O partido foi oficializado pelo TSE em 11 de fevereiro de 1982.

O despertar da liderança de José Dirceu, pós-graduado em economia, aconteceu a partir de 1983. Momento em que o PT realizava o 4° encontro nacional do partido, reconhecendo o direito das tenências na ótica de Hegemonia e Consenso de Antônio Gramsci. Começa a se delinear um Projeto de Poder e não um Projeto de Nação. O projeto hegemônico de poder introduzido por José Dirceu visava uma aliança com a classe empresarial enriquecida a custa do Estado, que o controlava pelo poderio econômico.

O PT defendia entre eles o domínio hegemônico e o aparelhamento do Estado. Esse consenso não poderia se dar pela revolução armada, já que as forças coercitivas do Brasil são muito fortes. A cúpula do PT aliou-se aos grandes empresários e colocou em prática essa teoria através da corrupção sistemática dos outros partidos e poderes constituídos usando o dinheiro do superfaturamento das empreiteiras.

A classe empresarial privilegiada e especializada em comprar influência política para se beneficiar, dos recursos e ações do Estado, se vê de frente com uma classe política dominante querendo ser corrompida para implantar o aparelhamento do estado permanecendo no poder. Portanto não havia um projeto de nação, mas sim um projeto de poder a qualquer preço (isso explica o grande volume bilionário de dinheiro, descoberto até agora pela Operação Lava Jato, liderada pelo Juiz Federal Sérgio Moro).

Vejo com muita clareza a reprodução desse modelo de Gramsci na Serra, a partir da junção PT/PDT e cooptação de outros partidos, que se uniram para controlar a FAMS sem nenhum projeto de cidade. Esses líderes comunitários por reproduzir esse pensamento hegemônico, se comportam exatamente como os idiotas úteis de Gramsci.

O município é tão importante ao longo da vida do cidadão, que está presente desde sua maternidade ao seu descanso no cemitério, portanto, existe muito a se planejar! Não é atitude racional de um líder comunitário, reunido em Federação, não discutir e planejar o futuro do município, enquanto o cidadão sofre com saúde precária sem médicos especialistas e remédios, com a falta de vagas nas escolas e creches, a segurança que vai de mal a pior chegando ao ponto de aluno ameaçar professores (inversão de valores) e desprezo ao orçamento participativo. O combate ao mosquito da dengue/zica deixa muito a desejar e a qualidade de vida não melhora na proporção que os problemas aparecem. O Poder Hegemônico associado ao capital especulativo aboliu a discussão dos interesses públicos do Congresso Nacional à Associação de Moradores, todos nós viramos idiotas úteis que não pensam e nem discutem.

Matéria Por Gildo Gomes
Pscanalísta, Servidor Público, Pós Graduado em Direito Político

Repostado por Maryhanderson
Para o Jornal Metrópole

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