Um terraplanista e um professor de teoria de gênero

Foto: Divulgação/iStock

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Talvez eu seja hoje o único ensaísta brasileiro que insiste em criticar a teoria de gênero a partir de seu absurdo mais evidente, e não tentando argumentar cientificamente com uma tese anticientífica. Afinal, o que seria tal teoria se não uma tese folclórica e negacionista da mais óbvia e latente verdade confirmável da natureza humana, a sexualidade binária? Não que eu já não tenha tentado argumentar seriamente com seus defensores; na realidade, passei anos tentando fazê-lo, li uma larga bibliografia de seus teorizadores e até documentos internacionais sobre o assunto que ninguém lê. Fato é que, no frigir dos ovos, encontramos como fundamentação real dessas ideias não mais que estudos duvidosos e parcamente conclusivos — geralmente de ordem psicológica e filosófica — teses manejadas e uma visão parcial da história a fim de justificar suas rápidas e rasas conclusões.

Não sou o único que tentou levar a sério a teoria de gênero. Em 2012, o comediante e sociólogo norueguês, Harald Eia, fez um documentário com sete episódios chamado Lavagem Cerebral (“Hjernevask”), questionando se as diferenças entre homens e mulheres eram de origem cultural ou biologicamente inatas. Ele entrevistou aqueles que defendem a maleabilidade de gênero nos indivíduos e sua relação com a cultura, e também aqueles que criticam ou simplesmente não levam a sério tais conclusões, defendendo que a sexualidade e suas construções posteriores são de origens biológicas e culturais, mas muito mais profundamente naturais.

O documentário, após mostrar que a teoria de gênero não passava de ideias sem comprovações, sem o mínimo de arrimo científico, causou um tsunami de críticas públicas às teses de gênero na Noruega, Finlândia, Suécia, Islândia e Dinamarca, ao ponto do Conselho Nórdico de Ministros determinar a suspensão do financiamento a tais pesquisas e políticas. Tais países nórdicos se encontram entre os primeiros do mundo nos mostradores de igualdade de gênero, exemplos de aceitação popular em relação a essas teses — a Noruega é, ainda hoje, em 2022, a primeira colocada na lista organizada pela Universidade americana de Georgetown de países com maior igualdade de gênero, seguida pela Finlândia, Islândia e Dinamarca.

O documentário, que foi transmitido pelo canal NRK1, e rendeu o prêmio Firtt Ord Award a Herald, conseguiu, através de sua pesquisa, conectar os pontos e dar voz aos silenciados cientistas que comprovam que a sexualidade humana não é — de nenhuma forma — uma tabula rasa como querem tais ideólogos, mas sim um complexo biológico estruturado e coeso, apesar dos distúrbios, aporias psíquicas e genéticas já conhecidas pela comunidade médico-científica. Pode-se dizer que o documentário desconstruiu a pseudocientificidade da teoria de gênero sob o sol, ante a vista de boa parte da Europa progressista.

Judith Butler, em seu livro Problemas de Gênero, afirma que tal gênero multifacetado seria “uma performance social”, e não uma condição biologicamente inata; ela deixa entender ainda que seria a cultura que determinaria a biologia, e não o contrário. No documentário acima citado, uma das entrevistadas, a filósofa de gênero Catherine Egeland afirma que “não se interessa nem um pouco” por estudos que comprovam a diferença inata entre homens e mulheres em seu escopo corpóreo e psíquico, e completa: “é espantoso que as pessoas se interessem em pesquisar essas diferenças”. E, para arrematar a sandice, Egeland diz quase a mesma coisa que Butler escreve em seu empolado livro supracitado, as ciências sociais têm o dever de negar e contrapor os conhecimentos biológicos que afetam “negativamente” a sociedade e a busca pela igualdade de gênero. Até mesmo o diagnóstico de disforia de gênero, que há mais de um século é conhecido e catalogado por médicos e cientistas, foi recentemente considerado preconceituoso pela ONU. Ou seja, até a ciência parece ser opositora dessa tese, afinal.

Sendo assim, parece que estou desculpado por não tratar empiricamente uma teoria social assumidamente não científica; talvez os senhores até me desculpem por realmente julgar isso como mera crendice gourmet de acadêmicos ociosos. No entanto, o buraco é mais profundo. Não dá para ignorar a ideologia de gênero como se ela fosse mera imaginação boba de crianças. Muita gente poderosa, instituições governamentais e extragovernamentais apoiam, sustentam e defendem tais ideias, apesar de sua óbvia e já comprovada anticientificidade. Como dizia Ayn Rand: “Você pode ignorar a realidade, mas não pode ignorar as consequências de ignorar a realidade”.

Como liberal sempre acreditei que o questionamento de tudo é a base fundamental do avanço social moderno e do conhecimento organizado da civilização. No entanto, a teoria de gênero não surge do questionamento sincero, mas sim do próprio dogmatismo progressista que, justamente por não ter bases confiáveis, se resguarda atrás de poderosos, instituições e financiamentos de bilionários para que a sociedade engula sem contestar as suas ideias; se um dia a teoria de gênero foi um questionamento sincero, é fato que atualmente se tornou uma das crenças mais fideístas da contemporaneidade, uma religião ideológica que, per se, não permite contestação. Questione a veracidade da teoria de gênero em qualquer universidade socialmente engajada e logo poderá provar da veracidade de minha afirmação. Como então podemos dialogar racionalmente sobre isso?

As consequências de ignorar a realidade vem subindo à superfície, apesar dos rematados esforços de escondê-la. Busquem saber quem foram Keira Bell e David Reimer; mas se quiserem dados reais sobre as consequências dessa teoria– pois aqui a empiricidade importa –, um estudo de 2018 conduzido pelo Ph.D. Russell B. Toomey da Universidade do Arizona chegou ao assustador mostrador que, entre todas as adolescentes que fizeram a transição estética para o corpo masculino, ao menos 51% delas tentaram posteriormente o suicídio. Outro estudo, agora com adultos, contou com 123 transsexuais de mulher-a-homem e 392 de homem-a-mulher, desenvolvido por pesquisadores do Departamento de neurociência clínica do Instituto Karolinska de Estocolmo, Suécia. Verificou-se que em 55% dos casos de transsexuais que fizeram a transição de mulher-a-homem, eles sofriam de depressão grave, e no caso de transsexuais que fizeram a transição de homem-a-mulher chegava-se a 62%. Somando ambos os grupos, 32% já haviam efetivamente tentado o suicídio.

Pode-se conjecturar que isso se dá pela não aceitação social da comunidade na qual tais indivíduos vivem, tese que cai cada dia mais enquanto esses números acima crescem. Por exemplo, segundo a Revista Queer, a Suécia é considerada o 4ª país mais seguro do mundo para os LGBTQIA+, com relação a legislações favoráveis e cultura compreensiva com transsexuais; e segundo a lista da Universidade Georgetown, a Suécia é o 7º país mais inclusivo do mundo com relação à igualdade de gênero. O que então explicaria os crescentes números dos estudos acima citados, principalmente do estudo sueco?

Em 2019, o Instituto Willians, na Universidade da Califórnia, relatou no estudo mais abrangente sobre o assunto nos dias atuais que, nos Estados Unidos, 81,7% dos transsexuais entrevistados já pensaram em cometer suicídio e 40,4% efetivamente tentaram. E, acreditem, uma das atuais pautas principais da dita “cultura trans” são as crianças e adolescentes; a Califórnia trabalha para transformar em lei o direito de crianças fazerem a transição sexual ainda antes da puberdade. Quem limpará essa baderna necrófila?

Tá ok, traí a intenção inicial do texto e comecei a argumentar com estatísticas e ciências, perdão. A intenção, no entanto, era ilustrar as consequências que há em praticar ideias descabidas , ideias sem nenhum respeito pela própria razão, dignidade humana e pela própria verdade; eis o fruto de emplacar narrativas desconstrutivas da própria personalidade humana como se a sociedade fosse um grande tubo de ensaio acadêmico, como se os indivíduos fossem ratos de laboratório.

Ideias absurdas, contrárias e alheias a qualquer comprovação e aferição científica mais elementar, devem ser rejeitadas pelos sensatos, mas quando elas se tornam efetivamente danosas à sociedade elas devem ser socialmente combatidas. E veja, que fique claro desde já, estou falando de ideias, não de pessoas — ainda que tais ideias impliquem pessoas –; debater ideias é meu hobby, e quero fazê-lo enquanto ainda há tempo. Combater ideias não é — e nem nunca foi – o mesmo que combater pessoas. Ou seja, este ensaio nada tem a ver com a aceitação de modos de vida diferentes do padrão hétero; muito menos com discriminação sexual pura e simples. Ninguém está pedindo passe livre para maltratar, discriminar e excluir indivíduos do convívio social, mas sim ampla liberdade para criticar concepções acadêmicas e ideologias políticas.

Como a própria ideologia de gênero vem negando a livre crítica racional aos seus dogmas, resolvi então tratá-la como mero pseudocientificismo, tal como são as teses do terraplanismo, os reptilianos e os demais illuminatis que vira e mexe surgem aqui e acolá em algum blog obscuro. Simplesmente não tenho tempo para ser calado por extremistas quando, de boa fé, tento emplacar um debate racional sobre ideias que considero tortas e erradas. Se é para conceituar antes de debater, que assim seja: a teoria de gênero é mera ideologia anticientífica, provem-me o contrário se forem capazes.

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